quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O amor é brega?



Falar de amor parece piegas, brega, ultrapassado.
Entendo que o século XXI não tenha sido dos mais cheios de amor pelo mundo. Muitas guerras, muitos casais se desfazendo, muitas desesperanças... Coisas ruins, apenas? Não podemos falar isso. A contrapartida de lutas pela paz, casais se formando e expectativas por um mundo com mais amor também existe.
Isso me lembrou o pai de um amigo músico dizendo “Vai tocar em casamento hoje? Quem foi o doido desta vez?” E ainda existem casais acreditando no amor, selando o matrimônio, tão abençoado por Deus, a cada dia, a cada mês. Esse pai do meu amigo tem um casamento aparentemente sólido. E os novos casais também parecem estar convictos o bastante para o aceitamento do mandamento.
Problemas... Dois ou três. Com as palavras. Primeiro com “aparentemente”. Não adianta querer avaliar, julgar ou só admirar. Ninguém de fora saberá de tudo o que se passa entre um casal. Ponto. Em seguida, com o verbo “parecer”, dito em seguida só por ordem de acontecimento dos fatos, porque na verdade o “aparentemente” já é derivado desse verbo. Portanto, entenda-se a mesma explicação: “nem tudo o que parece é!”. Em terceiro, a própria palavra motivadora da discussão: “problema”. Mais um ditado “e cada um com os seus”. É, e todo mundo os tem, ok? Primeiro problema surgiu, tchau amorzinho. Simples, não é? Eu diria que são pessoas sem coragem, as quais esperam pelo outro sem avaliar a si. Ou pessoas sem sentimento, uma vez que não gostar implica não lutar. Sei lá...
Quando dizem que falar de amor é brega, talvez seja em consequência de como as pessoas têm entendido do que seja esse sentimento – e antes que pense que entendo, sou apenas mais uma daquelas pessoas que julgam, mas falam em terceira pessoa, e isso parece não me incluir. Parece. Assim, quantos apaixonados de verão? Ou de inverno, primavera, tanto faz, o fato é que são passageiros amores. Pronto: paradoxo. Dizem também que amor não é passageiro. Então a falha talvez esteja no engano. Hã? Engano de que será algo mais duradouro e intenso o suficiente para chamar de amor, e de repente, acaba. Acontece. Não é só a juventude inconsequente que age assim, mas quem se disponha a conviver com o outro.
Bingo! Convivência! Já diz Padre Dalmário: “só sabemos que o casamento deu certo quando o amor termina”. Antes que recriminem, já sei, nunca casei. Contudo, refletindo a respeito disso, a princípio não é coerente. Ora, se casamos por amor... Eis que sentimento complicado! Quando é amor de verdade não acaba e o casal precisa cultivar a cada dia essa união. Também. Acredito que o padre quer dizer que casar é mais que amar, é conviver. É se incomodar com o defeito do outro e ainda assim aceitar o preço de estar junto daquela pessoa, que bem mais faz feliz e tem tantos defeitos quanto você.
Retomo a ideia de amar ser piegas. É porque no passado era mais fácil estar junto a outrem? Não sei se procede o pensamento. Basta analisar a posição da mulher na sociedade antes, que nem sequer podia sair de casa e era submissa ao esposo, e hoje, onde livre arbítrio e orgulho falam muito mais alto. Logo, existe uma inversão de valores, os quais a elevação da mulher na hierarquia social entra em declínio. Valorização do corpo escultural como sendo em prol da saúde física, exibicionismo ou os dois? Diversões noturnas com a finalidade de distrair, de procurar pessoas ideais, de tentar burlar uma solidão ou os três? É como mais um contraponto entre o que é e o que parece ser, quem sabe. Hã? De novo.
Com tudo isso, chega um ponto que amar parece ser errado. Ah... Já sabemos que só parece. A pessoa evita criar laços afetivos só por medo de errar. Medo de não corresponder: frustração, desengano, bloqueio. Amar é chato mesmo. É difícil. É não saber se está no caminho certo – muito menos quando se fala a respeito dele –, é ter que ceder a própria vontade em nome do outro, é silenciar... Poxa! Alguém ainda quer amar? Cadê as vantagens? Ah... São simplórias, só ama quem não tenta demais. É tomar sorvete, ver filme, brigar, brigar, brigar, pedir dinheiro emprestado, chorar e minutos depois rir de cócegas, saber ouvir, saber as palavras certas para dizer, brigar, brigar, brigar. Ufa! Bem mais cansativo e recompensador. Como tudo que é bom requer.
E a gente nunca consegue falar de amor. Por quê? Sem mais perguntas.

Mariana Lorena

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