Falar de amor
parece piegas, brega, ultrapassado.
Entendo que o
século XXI não tenha sido dos mais cheios de amor pelo mundo. Muitas guerras,
muitos casais se desfazendo, muitas desesperanças... Coisas ruins, apenas? Não
podemos falar isso. A contrapartida de lutas pela paz, casais se
formando e expectativas por um mundo com mais amor também existe.
Isso me
lembrou o pai de um amigo músico dizendo “Vai tocar em casamento hoje? Quem foi
o doido desta vez?” E ainda existem casais acreditando no amor, selando o
matrimônio, tão abençoado por Deus, a cada dia, a cada mês. Esse pai do meu
amigo tem um casamento aparentemente sólido. E os novos casais também parecem
estar convictos o bastante para o aceitamento do mandamento.
Problemas...
Dois ou três. Com as palavras. Primeiro com “aparentemente”. Não adianta querer
avaliar, julgar ou só admirar. Ninguém de fora saberá de tudo o que se passa
entre um casal. Ponto. Em seguida, com o verbo “parecer”, dito em seguida só
por ordem de acontecimento dos fatos, porque na verdade o “aparentemente” já é
derivado desse verbo. Portanto, entenda-se a mesma explicação: “nem tudo o que
parece é!”. Em terceiro, a própria palavra motivadora da discussão: “problema”.
Mais um ditado “e cada um com os seus”. É, e todo mundo os tem, ok? Primeiro problema
surgiu, tchau amorzinho. Simples, não é? Eu diria que são pessoas sem coragem, as
quais esperam pelo outro sem avaliar a si. Ou pessoas sem sentimento, uma vez
que não gostar implica não lutar. Sei lá...
Quando dizem
que falar de amor é brega, talvez seja em consequência de como as pessoas têm
entendido do que seja esse sentimento – e antes que pense que entendo, sou
apenas mais uma daquelas pessoas que julgam, mas falam em terceira pessoa, e
isso parece não me incluir. Parece. Assim, quantos apaixonados de verão? Ou de
inverno, primavera, tanto faz, o fato é que são passageiros amores. Pronto:
paradoxo. Dizem também que amor não é passageiro. Então a falha talvez esteja
no engano. Hã? Engano de que será algo mais duradouro e intenso o suficiente
para chamar de amor, e de repente, acaba. Acontece. Não é só a juventude inconsequente
que age assim, mas quem se disponha a conviver com o outro.
Bingo!
Convivência! Já diz Padre Dalmário: “só sabemos que o casamento deu certo
quando o amor termina”. Antes que recriminem, já sei, nunca casei. Contudo,
refletindo a respeito disso, a princípio não é coerente. Ora, se casamos por
amor... Eis que sentimento complicado! Quando é amor de verdade não acaba e o
casal precisa cultivar a cada dia essa união. Também. Acredito que o padre quer
dizer que casar é mais que amar, é conviver. É se incomodar com o defeito do
outro e ainda assim aceitar o preço de estar junto daquela pessoa, que bem mais
faz feliz e tem tantos defeitos quanto você.
Retomo a ideia
de amar ser piegas. É porque no passado era mais fácil estar junto a outrem?
Não sei se procede o pensamento. Basta analisar a posição da mulher na
sociedade antes, que nem sequer podia sair de casa e era submissa ao esposo, e
hoje, onde livre arbítrio e orgulho falam muito mais alto. Logo, existe uma inversão
de valores, os quais a elevação da mulher na hierarquia social entra em
declínio. Valorização do corpo escultural como sendo em prol da saúde física,
exibicionismo ou os dois? Diversões noturnas com a finalidade de distrair, de
procurar pessoas ideais, de tentar burlar uma solidão ou os três? É como mais
um contraponto entre o que é e o que parece ser, quem sabe. Hã? De novo.
Com tudo isso,
chega um ponto que amar parece ser errado. Ah... Já sabemos que só parece. A pessoa
evita criar laços afetivos só por medo de errar. Medo de não corresponder:
frustração, desengano, bloqueio. Amar é chato mesmo. É difícil. É não saber se
está no caminho certo – muito menos quando se fala a respeito dele –, é ter que
ceder a própria vontade em nome do outro, é silenciar... Poxa! Alguém ainda
quer amar? Cadê as vantagens? Ah... São simplórias, só ama quem não tenta
demais. É tomar sorvete, ver filme, brigar, brigar, brigar, pedir dinheiro
emprestado, chorar e minutos depois rir de cócegas, saber ouvir, saber as
palavras certas para dizer, brigar, brigar, brigar. Ufa! Bem mais cansativo e
recompensador. Como tudo que é bom requer.
E a gente
nunca consegue falar de amor. Por quê? Sem mais perguntas.
Mariana Lorena
Nenhum comentário:
Postar um comentário