Seguindo viagem, uma senhora dividiu a poltrona do ônibus com um desconhecido, que antes de sentar perguntou:
-Posso ir ao seu lado?
Com a expressão de riso, respondeu se acomodando no banco:
-Pode...!
O curto diálogo me fez pensar um pouco mais na sintaxe daquela pergunta. Eu e minha sensibilidade às palavras! Eu elaborava uma série de contextualizações para a mudança de apenas uma letra (a) na interrogação dele. Talvez minha resposta continuasse a mesma com tal alteração, porque eu saberia da intencionalidade do emissor naquela situação, mas o discurso seria outro, sim, se ele perguntasse "Posso ir do seu lado?" Preposições que se diferenciam por tão pouco e tanto.
Uma pessoa pode ir do lado, estar do lado, ficar do lado, seja em um veículo, ao seguir um mesmo caminho, sentado em um sofá, na cama... 'Do lado' exprime concretude, dá a ideia de corpos fisicamente mais próximos, alinhados lateralmente.
A diferença é sutil.
Ir, estar ou ficar ao lado confere união. É apoio moral, é acatar o pensamento do outro. A sutileza se finda em não ser necessário que dois corpos estejam juntos. Aquele desconhecido talvez ficasse ao lado da senhora, caso precisasse que ele a defendesse, ou não; mas do lado dela, ele já estava.
'Ao lado' é cumplicidade, é poesia. E acrescentaria que somente a capacidade de sentir que o homem possui, diferentemente de coisas e animais, dá-lhe a regalia de usar tal preposição.
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