domingo, 12 de junho de 2011

Na Prosa-Cantar-Poesia

Motivos, certamente existem. Como o tempo fez alguns dos meus pensamentos modificarem ou se re-construirem, tentarei usufruir da ideia sem normas, ainda que até onde tenho tentado dizer, existiram vários pensamentos – e antes de eu dizer isso, pensei serem apenas dois, em que, no mesmo instante, se multipilicaram. Expor quais foram, vai depender desse acordar do pensamento no percurso palavrático. É, quero ter amplitude de voz, de construção e des(moro)namento: estar envolvida, padecer na graça de receber um verbo à mente, por mais que ele não seja convidado, contudo dando um significado maior ao motivo da prática.
Se de alguma forma, parecer não fazer sentido, faz parte. A criação sai de tal forma que basta querer fazer, seja algo a entender ou se fazer entendido. Antes de concluir o que é escrever, se é dom, gosto, necessidade, parei no primeiro, fazendo referência ao talento e à aptidão. Ouvi um psicólogo diferenciar, mas cada vez que uso alguma dessas definições, falo inseguramente. Portanto, cabe a mim aproveitar o momento. O primeiro recurso que pensei para a despretensiosa explicação foi o ato de cantar.

Alguns defendem que cantar é dom, outros acreditam que é talento ou aptidão. Como não tenho embasamentos teóricos ou psicológicos, usarei conceitos utilizados pelo amigo ‘Aurélio’. Talento é dom natural ou adquirido e aptidão é capacidade natural ou adquirida. A primeira relevância que faço é quanto ao natural. Penso que a naturalidade de cantar sem regras (aula técnica) e desenhar notas perfeitas com a voz já é um dom, mesmo que seja aptidão. Literalmente, dom: dádiva, presente, qualidade inata, poder. Em contrapartida, defendo então que se o cantante não possui esse dom de forma inata e busca se aperfeiçoar na técnica cantará bem não por dom, mas por talento. A pergunta seria “qualquer pessoa pode cantar?”

Se a pessoa tem dom e busca domínio da técnica vocal, saberá usar bem a voz, isso é fato. No entanto, poder também é questão de ‘quereres’. Algumas pessoas veem prazer e beleza em cantar mesmo sem ter habilidades pra isso e por esse motivo buscam adquiri-las, podendo também agradar ouvintes. Daí a dizer “qualquer pessoa pode ser cantor” discutiria um pouquinho mais. Basta assistir a programas de calouros/auditório e perceber que muitas coisas são avaliadas além de dom ou talento pra cantar.

Ser cantor requer mais que ter uma voz agradável, é profissão, é trabalho mental e corporal, além de vocal. Entram em questão os segmentos administrativo, financeiro, mercadológico, e outros além do musical. Requer inteligência na escolha das músicas, porque há uma intenção comunicativa para cada público; porque a indústria de consumo massifica; porque é preciso analisar quem são as pessoas e o que elas querem ao ouvir um cantor, ou seja, qual o papel social dele. Isso porque ainda não estou fazendo apologia a nenhum gênero ou estilo musical; essa discussão fica para outro momento.

O público pede do cantor carisma, comunicação, proximidade, seja pelos olhos ou ouvidos direto ao coração – reforço a intencionalidade comunicativa. Pede movimento, sentimento, verdade. Porque o cantor tem a responsabilidade de fazer da música canção – executar o texto – e por que não falar em “fazer do amor a mais bela canção?”. Eis que surgem: poetas ou compositores?

Já presenciei na academia uma discussão na qual o professor explicava que canção, enquanto gênero textual, não poderia ser caracterizado como poema. Antes de desenvolver, quero relembrar os conceitos de poema e poesia. De forma mais simplória talvez do que quando aprendemos no Ensino Fundamental, até porque a diferença ou semelhança não vai ser perguntada em questão de prova (e mais um ponto a comentar: análise de poemas como forma avaliativa). Primeiro, quando falo em poema, trata-se de uma forma fixa, um ‘molde sem regras’, uma vez que pode ter rimas ou não, ser escrito em versos ou não, pode falar de amor ou não. Soneto, conto, cordel podem ser poemas. Falar de poesia é mais romântico, é mais “poético”. A poesia não é apenas um poema, mas está no poema. Pode haver tanta poesia em um texto como em canções, quadros, momentos – um pôr-do-sol, uma criança suja de sorvete, um pássaro confuso com tantos galhos para formar um ninho... Rita Lee diz “amor é prosa, sexo é poesia”. Fala-se em prosa o poema ‘corrido’, o texto escrito em parágrafos, um romance, uma novela. Se a poesia abrange tanto, amor é mesmo prosa e poesia está nos olhos de quem a quer. Já o sexo... Sem mais digressões.
Voltando à questão de canção ser poema, um amigo exemplificou uma canção de Chico Buarque como forte argumento. O professor resistiu, contra-argumentando que a distância entre os dois gêneros se faz pela presença ou não da música enquanto parte instrumental.

Considerando que há a parte física (ritmo), a emocional (melodia) e a intelectual (harmonia), assim como já defendendo que um poema pode ter tanto dessas partes quanto pode uma canção, fico a favor do amigo. Aproveitando pra comentar que a beleza das palavras do professor ao falar de literatura encanta qualquer expectador, inclusive eu, que admiro o conhecimento dele traduzido no dom de lecionar.

Passeei até o fim das forças discursivas de hoje e por gentileza, declaro para os devidos fins, que a reflexão foi muito válida; foi além do que ficou registrado. Dedico ao meu motivador, Avelino da Hora Neto.



Mariana Lorena

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